Respiramos com dificuldade – Entenda sobre as queimadas da Amazônia


Fumaça de queimada avança sobre a Amazônia — Foto: Aqua/Nasa/Reprodução

De janeiro a agosto deste ano, Brasil teve uma alta de 82% no número de queimadas. Mais de 13 mil, 19% do total, estão no Mato Grosso.

aumento de 82% dos focos de queimadas no Brasil causou a reação de ambientalistas, foi um dos fatores para a ocorrência da “chuva preta” em São Paulo, mobilizou justificativas do governo e virou assunto mundial.

1. O que é uma queimada? É a mesma coisa que um incêndio florestal?

“Queimada” é um termo genérico para tudo que tem fogo, diz o climatologista Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências e do Grupo Estratégico da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.

Já o “incêndio florestal” pode ser de três categorias:

  • Limpeza de pasto para agricultura

A técnica milenar, que antes se restringia a pequenas áreas, foi sendo substituída por outras mais modernas, que não fazem uso de fogo. A prática não é proibida, desde que a queima seja controlada, dentro de critérios legais que buscam minimizar o alcance do fogo e o impacto da poluição do ar na saúde da população.

  • Queima de floresta já derrubada

Ocorre de dois a três meses após o desmatamento, quando os troncos e folhas das árvores estão mais secos. É o tipo de incêndio que gera mais fumaça, porque tem mais material para queimar. De acordo com Carlos Nobre, a pastagem tem seis toneladas por hectare de matéria seca, enquanto a floresta tem 250 toneladas por hectare de matéria.

Caminho da mudança da terra na Amazônia — Foto: Rodrigo Sanches/G1

Caminho da mudança da terra na Amazônia — Foto: Rodrigo Sanches/G1

  • Incêndio de floresta em pé

O incêndio florestal da mata em pé pode ocorrer de duas formas: 1) quando se coloca fogo nas árvores para que a área fique degradada e, aos poucos, a floresta morra 2) quando o fogo da pastagem atinge a floresta no entorno, quando a chama atinge as árvores, com o contato por uma faísca ou quando se alastra pelo chão.

2. O que é necessário para acontecer uma queimada?

Para haver fogo, é preciso combinar: fontes de ignição (naturais, como raios, ou antrópicas, como isqueiros ou cigarros); material combustível (ter o que queimar, como madeiras e folhas); e condições climáticas (seca). “Se faltar um destes pontos, não tem fogo”, afirma Ane Alencar, diretora de Ciências do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Segundo Ricardo Mello, gerente do Programa Amazônia do “World Wide Fund for Nature” no Brasil (WWF Brasil), no caso da Amazônia, quase todas as queimadas são associadas à atividade humana. “É o homem botando fogo. Não existe outro cenário”, diz.

Em alguns casos, menos comuns, há os incêndios acidentais, causados por bitucas de cigarro, por exemplo. Nobre cita também os casos de incêndios espontâneos, provocados por raios. “Mas são raros e não se alastram porque às vezes a floresta não está tão seca”, diz.

Outra prática comum que causa queimadas é a grilagem. Mello explica que grileiros colocam fogo em algumas áreas para desocupá-las, instalar a pecuária, após alguns anos, reclamar a propriedade das terras.”O jeito mais fácil de provar a ocupação da terra é com a pecuária. Isso faz parte do processo grilagem também, pois alguém se apropria da terra pública”, diz.

3. Onde estão as queimadas no Brasil?

De acordo com os dados do Inpe, a metade delas está na Amazônia neste ano. Outros 30% no Cerrado. Veja o gráfico abaixo por biomas e o mapa do cenário dos estados:Focos por bioma desde 01/01/19Amazônia: 38.228Cerrado: 21.942Mata Atlântica: 7.943Pantanal: 2.491Caatinga: 1.507Pampa: 732Fonte: Programa Queimadas/Inpe

Queimadas em 2019 — Foto: Arte G1

Queimadas em 2019 — Foto: Arte G1

4. Toda queimada é ilegal?

Não. Existem queimadas permitidas, que seguem técnicas de controle estabelecidas pelos estados. Uma queimada legal precisa da autorização do órgão ambiental competente. No estado de São Paulo, um decreto de 2003 estabeleceu a eliminação gradativa da queima da palha-de-cana de açúcar. É permitido queimar, após autorização, 20% da área plantada. Em 2021, a queima será totalmente proibida. Algumas usinas investem em satélites para monitorar os incêndios.

No caso da Amazônia, no entanto, a maioria das queimadas é realizada ilegalmente. “O fogo intencional é muito maior”, afirma Mello. “Praticamente tudo vem de uma área desmatada ou degradada, que é queimada para atividade agropecuária.”

5. As queimadas aumentaram neste ano?

As queimadas no Brasil aumentaram 82% em relação ao ano de 2018,se compararmos o mesmo período de janeiro a agosto – foram 71.497 focos neste ano, contra 39.194 no ano passado. Esta é a maior alta e também o maior número de registros em 7 anos no país, de acordo com o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), gerados com com base em análises de satélites.

Amazônia concentra 52,5% dos focos de queimadas de 2019. O Cerrado é responsável por 30,1%, seguido pela Mata Atlântica, com 10,9%.

6. Por que as queimadas aumentaram?

Ane Alencar, que estuda a Amazônia há 25 anos, diz que as queimadas aumentaram por causa do desmatamento. “É uma relação direta”, afirma. “Quando você desmata uma área para implementar pastagem ou agricultura, você tem que se livrar daquela biomassa.”

As áreas com alerta de desmatamento na floresta amazônicativeram uma alta de 278% em julho, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Os dados consolidados relativos ao último ano ainda não foram divulgados. Dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontam, no entanto, uma alta de 15% no último ano.

7. O clima e o inverno influenciam as queimadas?

A queimada não é efetiva quando a vegetação está úmida. Por isso, os incêndios criminosos, ou controlados, ocorrem nos meses mais secos, que em geral são entre junho, julho e agosto. Em algumas regiões, pode se estender até outubro.

“Quando tem um ano muito seco, a queimada pode entrar dentro da floresta. O fogo se espalha e possibilita mais incêndios acidentais”, diz Ricardo Mello.

Ane Alencar descarta a relação das queimadas com o clima seco neste ano. Segundo ela, a última vez que o Brasil passou por uma seca, intensificada pelo El Niño, foi do final de 2014 ao início de 2016 – período em que houve racionamento de água em diversos estados.

“Naquela época, o fogo explodiu. Mas o aumento no número de focos deste ano já é maior que em 2016”, afirma. “Isso nos leva a realmente entender e afirmar que a correlação entre fogo e desmatamento está muito forte.”

8. Como os satélites conseguem identificar queimadas?

De acordo com Carlos Nobre, os satélites do Inpe que monitoram os focos de queimadas são equipados com sensores térmicos que captam a emissão de calor. “Eles medem como se fossem um termômetro. Uma chama tem acima de 200 °C, não tem nada que faça a temperatura em um local chegar a este patamar que não seja o fogo”.

9. Quais sistemas vigiam o Brasil e quais dados eles geram?

O Inpe tem o Programa Queimadas, que monitora os focos ativos pela irradiação de calor.

Há também o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que capta a “cicatriz” do incêndio por meio de frações de luz. “É como se medisse a escuridão daquele ponto após o incêndio”, explica Nobre.

Além deles, a agência espacial americana (Nasa) e a agência espacial europeia (ESA) têm seus próprios sistemas.

10. Como as queimadas são combatidas?

Existem formas de evitar que o fogo se espalhe sem controle, além das políticas de fiscalização dos órgãos ambientais, missão ligada principalmente ao Ibama. Ricardo Mello menciona pelo menos três técnicas para incêndios legais:

Aceiros: abrir espaços sem vegetação ao redor da área a ser queimada. Uma estrada, por exemplo, impede que o fogo se alastre além dos limites;

Contrafogo: colocar fogo em uma outra área, para desviar o direcionamento do incêndio. Além disso, é possível botar o fogo em direção contrária ao vento, por exemplo;

Brigadistas: estruturas do Corpo de Bombeiros e de comunidades locais nas quais brigadistas são treinados para combater o fogo. Geralmente, essas brigadas dependem de recursos dos governos, parte deles do Fundo Amazônia.

Mello observa que, dada a grande extensão da Amazônia, é impossível controlar eficazmente todos os incêndios provocados. “Por isso, a chave contra as queimadas na Amazônia é ‘zero fogo’. Ou, pelo menos, quando é realmente necessário queimar, usar todas as técnicas possíveis e disponíveis para que o fogo seja contido”, diz.

11. Quais são os impactos ambientais?

Entre os vários impactos imediatos das queimadas, três são os mais evidentes, conforme explica André Guimarães, representante da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e diretor-executivo do IPAM:

1. Perdas de biodiversidade: tanto a vegetação quanto os animais sofrem com a destruição;

2. Perdas de qualidade do solo: a terra fica menos fértil e gradualmente mais frágil;

3. Problemas de saúde: a tendência é aumentarem os casos de doenças respiratórias nas cidades próximas às queimadas.

12. Como a ciência comprova que a chuva negra que caiu em SP tem relação com as queimadas?

Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) analisou amostras de água de chuva coletadas por moradores de São Paulo após uma forte nebulosidade cobrir a capital na última segunda-feira (19). O resultado apontou a presença de reteno, uma substância proveniente da queima de biomassa e considerada um marcador de queimadas.

Fonte: G1

  1. Olá aqui é a Maíra Garrido, eu gostei muito do seu artigo seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.

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