Sem cumprir protocolo do Ministério da Saúde, Minas tem 160 mil testes de Covid-19 disponíveis, mas só fez 20 mil

O Ministério da Saúde enviou para Minas Gerais 160.552 testes RT-PCR para diagnosticar Covid-19. É um dos estados que recebeu maior número de exames do governo federal. Apesar disso, só 20.700 foram realizados até agora, o que coloca os mineiros entre os que menos são testados no país. A explicação pode estar no protocolo adotado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), que contraria recomendações nacionais para detectar o novo coronavírus. A pasta ainda afirmou que utiliza o PCR para diagnóstico de outras doenças.

Até esta quarta-feira (27), Minas Gerais tinha 8.011 casos confirmados do novo coronavírus, sendo 240 mortes decorrentes da doença. Enquanto isso, Rio de Janeiro já tinha quase 42.398 casos confirmados e mais de 4.605 mortes pela doença e, São Paulo, 89.483 confirmações e tem 6.712 óbitos.

Embora o governador Romeu Zema (Novo) tenha afirmado que os testes para Covid-19 sejam realizados em qualquer paciente com sintomas da doença, a Secretaria de Estado de Saúde informou que não faz coleta de amostras de quem apresenta sintomas leves, nem assintomáticos. De acordo com a SES-MG, só são feitos diagnósticos laboratoriais em casos de Síndrome Respiratória Aguda Graves que são hospitalizados ou óbitos suspeitos.

Também passam por exames os profissionais de saúde, profissionais de segurança, e presos e adolescentes em medidas sócio-educativas, todos sintomáticos. Para estes grupos, devem ser priorizados testes rápidos. Além disso, são testadas amostras aleatórias, provenientes de unidades de sentinela, para verificação da situação epidemiológica de um determinado local.

O protocolo adotado em Minas diverge de outros estados e até mesmo de orientações do próprio Ministério da Saúde. Segundo a pasta, desde 6 de maio, análises de RT-PCR, que é o exame utilizado para identificar o vírus ainda atuando no organismo, devem ser feitas em pessoas com sintomas da doença, independentemente de estarem com quadro leve, moderado ou grave.

A Secretaria de Estado de Saúde confirmou, em nota, que tem conhecimento do protocolo do Ministério da Saúde e que informou as Superintendências e Gerências Regionais de Saúde sobre a ampliação do protocolo desde o dia 19 de maio, mas que “uma nota de atualização da SES, com definição destes grupos será publicada em breve”.

Questionada por que o estado não realiza mais testes, já que existem muitos exames disponíveis, a SES-MG disse, apenas, que o PCR disponibilizado pelo Ministério da Saúde é utilizado para diagnóstico de outros vírus.

Para o virologista Flávio Fonseca, que participa do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), limitando a testagem por PCR, o estado deixa de adotar medidas de isolamento mais eficazes.

“O teste PCR tem limitação de uso. Mas se você detecta uma pessoa positiva, é ela que tem que ficar em casa. Se detecta [enquanto o vírus está ativo], pode isolar a pessoa e ela para de ser um transmissor. Entre 80% e 90% das pessoas que estão com a doença são assintomáticas ou têm sintomas leves. Se a gente ampliar o teste para incluir, por exemplo, pessoas com síndrome gripal nas Upas, podemos colocar esse paciente em quarentena e reduzir o risco de contaminação. É uma questão estratégica”, disse.

Segundo ele, baixo número de testes realizados pode prejudicar também no controle da doença.

“Todos os países convergem para a testagem da população como estratégia essencial para controlar a crise da pandemia. Isso é fato consensual no mundo inteiro. Se não estamos fazendo [testes], estamos numa condição pior de conhecimento para tomada de decisão. Acho que é uma perda de oportunidade de conhecimento epidemiológico. Temos que ter um conhecimento mais amplo na base do problema para uma decisão estratégica”, falou.

Subnotificação

Coleta de amostras para exames de Covid-19 — Foto: Divulgação/SRS Uberaba

Coleta de amostras para exames de Covid-19 — Foto: Divulgação/SRS Uberaba

Mesmo sendo o segundo estado mais populoso do país, com cerca de 21 milhões de habitantes, Minas Gerais é o segundo estado do Brasil com menor incidência de casos de Covid-19, segundo o Ministério da Saúde. São 35,5 casos a cada 100 mil habitantes. Fica atrás somente do Paraná, com 30,7 casos confirmados a cada 100 mil habitantes.

Por trás dos bons resultados, no entanto, podem estar casos subnotificados da doença. O estado é um dos que menos testa a cada 100 mil habitantes. Pelos dados disponibilizados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) nesta quarta-feira (27), foram realizados 98 testes a cada 100 mil habitantes, número bem inferior a São Paulo, por exemplo, esse índice ultrapassa 200 testes, no Amazonas, 558, e no Distrito Federal, chega a mais de 600.

A Fundação Ezequiel Dias (Funed), que é o laboratório responsável pelos exames em Minas Gerais, disse que tem pode analisar uma média diária de 3.140 testes, somando a capacidade produtiva dos laboratórios parceiros. São 9 instituições habilitadas no estado a realizar estes procedimentos. Esta capacidade, no entanto, pode chegar a 5.490 testes por dia.

A Fundação, no entanto, não disse quantas amostras têm sido analisadas diariamente. Mas confirmou que não recebe a quantidade que se aproxima do limite de sua capacidade de análises. “A demanda atual não chega a esse número”.

O virologista Flávio Fonseca pondera que apesar de a baixa testagem ser indício de subnotificação, outros itens devem ser levados em conta para se analisar o cenário. “Por exemplo, no Comitê da UFMG, a gente avaliou a ocupação de leitos que, em BH, não está nos níveis de emergência como em Manaus ou Rio, por exemplo. As taxas de mortalidade por síndrome Respiratória Aguda Grave, embora tenha tido um aumento, este aumento até pode ser causado por Covid, mas não há confirmação”, ponderou.

Como o G1 mostrou nesta semana, Minas Gerais teve, neste ano, 1.250 mortes a mais por SRAG neste ano, em comparação com o ano passado. Entretanto, a taxa de ocupação de leitos permanece estável. Nesta quarta-feira (27), o estado estava com 69% de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e Belo Horizonte com 74%. Estes leitos são os utilizados em casos mais graves de internação de pacientes com sintomas de Covid-19.

Testes rápidos

Teste rápido identifica que já teve contato com o novo coronavírus — Foto: TV TEM/Reprodução

Teste rápido identifica que já teve contato com o novo coronavírus — Foto: TV TEM/Reprodução

Além dos testes RT-PCR, o Ministério da Saúde também está disponibilizando os chamados testes rápidos, que são os sorológicos, realizados para verificar quem já teve o vírus. Minas Gerais recebeu mais de 783 mil testes rápidos e diz já ter distribuído para as prefeituras, que ficarão responsáveis por realizar os exames.

A Secretaria de Estado de Saúde não informou como foi a distribuição destes itens, quais cidades foram contempladas, nem quantos já foram realizados.

Para os testes rápidos, o protocolo que deverá ser adotado no estado é de testar qualquer pessoa com sintomas, que se enquadre nas categorias abaixo:

  • Profissionais de saúde e segurança pública em atividade, seja da assistência ou da gestão;
  • Pessoa que resida no mesmo domicílio de um profissional de saúde e segurança pública em atividade;
  • Pessoa com idade igual ou superior a 60 anos;
  • Portadores de condições de risco para complicações da COVID-19;
  • População economicamente ativa.

Fonte: G1

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